segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Síndrome de impacto.


Nossos músculos têm como função mexer os segmentos do nosso corpo, função que denominamos dinâmica. No entanto, para mexer estes segmentos, outras partes têm que estar estabilizadas, servindo de pontos fixos, e a esta função denominamos estática.
Podemos dizer que os músculos que estabilizam as articulações, que suspendem peso, e que equilibram as tensões entre si, têm características predominantemente estáticas, esta é sua função. A patologia que apresentam, por causa da tendência natural de reforçar sua atividade, é a retração, e a conseqüência disto é o aumento do tônus e o encurtamento.
A articulação escapulohumeral, principal articulação do complexo ombro, é uma articulação com muita mobilidade e pouca estabilidade. Encontraremos nesta articulação músculos que geram seu movimento (Função dinâmica), mas que também têm função de estabilizar a articulação e de suspender o peso dos ossos, neste caso o úmero, a escápula, e também a clavícula na cintura escapular (Função estática),
As superfícies articulares desta articulação são, por um lado, a cavidade glenóidea de forma oval, com um diâmetro mais vertical que horizontal, pequena, quase plana, e por outro lado temos a semiesfera da cabeça do úmero de maior tamanho que a cavidade glenóidea. O lábio glenoidal dá maior estabilidade ao aumentar a concavidade desta superfície que recebe a cabeça do úmero. (Fig.1)

Existe por cima desta articulação um espaço, espaço subacromioclavicular, espécie de túnel onde encontraremos o tendão do músculo supraespinhoso, o tendão do músculo bíceps longo e a bolsa serosa subacromial.
Este espaço deve ser normalmente entre 8 a 14 mm (Fig. 2) e a diminuição deste espaço caracteriza aSíndrome do Impacto. Esta diminuição pode ser indicadora de que as estruturas que estão passando por baixo da articulação acromioclavicular podem estar comprimidas e laceradas.



A diminuição deste espaço (Fig. 3) pode aumentar a fricção e inflamar os tendões do supra-espinhoso, do bíceps e da bolsa subacromial , provocando tendinite do supraespinhoso, tendinite bicipital ou bursiti subacromial. Se este aumento da fricção se prolonga por muito tempo pode provocar rupturas parciais ou, progressivamente, rupturas totais dos tendões. Podem, também, aparecer calcificações do tendão supraespinhoso. Podemos pensar nisto como uma forma do corpo de se defender da agressão que está sofrendo, tentando com o acúmulo de cálcio fortalecer o tendão.
Esta posição elevada da cabeça (Fig. 4) pode ser conseqüência de uma queda, quando todos nós, por uma reação automática de equilíbrio, nos defendemos apoiando as mãos ao cair. A mão recebe uma força reativa do solo em direção ao ombro, que empurra a cabeça em direção ascendente, provocando o impacto.
Mesmo sem ter acontecido uma queda, muitas pessoas, em função de suas profissões, de muito tempo frente ao computador, que carregam muito peso nos membros superiores, ou até mesmo por causa de estresse, tendem a tensionar os músculos que suspendem o peso do membro superior. Isto gera alterações posturais elevando os ombros, o que pode provocar também uma elevação da cabeça umeral, agredindo desta maneira as estruturas que estão por cima dela.
O paciente se queixa de dor ao realizar uma abdução da articulação escapulohumeral, ou seja, quando quer realizar um movimento para abrir os braços acima de 90o. A incongruência articular decorrente da elevação da cabeça dificulta este movimento. (Fig. 4)

O tratamento com RPG Souchard se realiza em posturas globais que são mais micro-ajustes posturais com estiramentos passivos, suaves, prolongados no tempo, e por contrações isométricas em posições cada vez mais alongadas, atuando assim, tanto no nível do tônus, como da retração fibrosa dos músculos da estática, com manutenção isotônica concêntrica dos músculos da dinâmica.
Sempre mantendo em descompressão articular, e sendo progressivamente cada vez mais globais. Partimos da conseqüência até a causa do problema, buscando reencontrar a boa morfologia e a função. Respeitamos sempre a individualidade de cada paciente porque, mesmo tendo os mesmos ossos, os mesmos músculos e o mesmo diagnóstico, não há uma pessoa igual à outra. Somos seres únicos e, desta forma, não haverá uma sessão de tratamento igual a outra.
Para problemas como este, usualmente, aplicamos posturas de braços fechados (Fig. 6) que buscam descender a cabeça do úmero que está elevada, esticando os músculos que mantém esta articulação em uma posição incorreta.


Aplicamos, depois, posturas de abertura dos braços (Fig. 7) buscando esticar a musculatura que freia o movimento de abdução. É a superioridade quantitativa e qualitativa (estática) de músculos adutores e rotadores internos que sobrecarrega os músculos abdutores e rotadores externos, que são os que acabam fazendo o sintoma: tendinite bicipital, tendinite do supraespinhoso, manguito dos rotadores. Não é a debilidade dos rotadores externos que dificulta a rotação externa ou a torna dolorosa, e sim a retração dos músculos adutores rotadores internos. Sendo assim, uma mudança de paradigma se faz necessária. Não será fazendo musculação com contrações concêntricas dos músculos rotadores externos que se devolverá ao paciente a capacidade de abduzir e rotar externamente o ombro, mas será retirando o freio que impede este movimento, que é a retração dos músculos adutores rotadores internos.

O reposicionamento articular, o equilíbrio das tensões musculares, a boa postura decorrente deste equilíbrio e, conseqüentemente, a supressão do sintoma, são os objetivos da RPGSouchard.

Artigo produzido por Julieta Rubinetti.
Fisioterapeuta. Professora adjunta do curso de RPG Souchard

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